3Rs – 2022


Realizações, Recordações e Reinvenções

Enamoramento: a chave da relação


Comunicação, a transferência de informação sob a forma de mensagem entre um emissor e um recetor compatível:

— a relação: receção de informação proveniente de estímulos internos ou externos, conversão em sinais; transferência da mensagem; processamento da informação; coordenação da ação; regulação da pulsação;

— a assinatura molecular: uma representação da integração de redes bioquímicas (implicando o genoma, o epigenoma, o transcriptoma e o proteoma, mas não só) e bioelétricas (como é o caso da diferença de potencial produzida por gradientes eletroquímicos) em diferentes níveis de organização do corpo humano, desde a célula (cerca de 37 triliões de células humanas e uma população equivalente de bactérias), aos tecidos, orgãos e sistemas de orgãos para orquestrar a resposta;

— a consciência: capacidade de perceber a relação com o ambiente;

— a força que interpela, impulsiona e despoleta uma energia que torna a vida possível: cósmica e universal, associada a um nome ou sem denominação.

E se essa força for o amor e o enamoramento um facilitador da comunicação?

A comunicação é indissociável da vida e extensível aos outros seres vivos. O recetor não só descodifica a mensagem como também é capaz de mobilizar os recursos – matéria e energia – para traduzir essa informação em algum tipo de ação. Metaforicamente, o enamoramento é a compatibilidade que torna possível a relação emissor-recetor; o amor, a propagação coordenada, precisa e muitas vezes imaginativa de relações causa-efeito orientadas para o estabelecimento/manutenção de estados de equilíbrio.

No processo de comunicação, a relação com o ambiente é uma experiência subjetiva que pode ser mais ou menos imersiva.

Sentir o momento pode traduzir-se por um estado de alerta contemplativo que é recetivo a estímulos e sensações. 

Para além dos cinco sentidos comuns - visão, audição, olfato, paladar e tato - estão descritos pelo menos mais quatro que fornecem informação sobre equilíbrio (sentido vestibular), posição e movimento do corpo (proprioceção e cinestesia), dor (nocicepção) e temperatura (termoceção). 

Nestes sistemas sensoriais, recetores específicos, geralmente de natureza proteica, convertem a informação recebida pelos respetivos estímulos físicos ou químicos em sinais que são dirigidos ao sistema nervoso central, designadamente ao cérebro, mas não só. A organização, identificação e interpretação da informação subjacente -  formação de representações sensoriais e conteúdos selecionados de estados com uma organização espaçotemporal dinâmica - representa a perceção. 

Enquanto que a sensação envolve a via ascendente, a perceção implica as vias ascendente e descendente. Embora a perceção seja construída a partir de sensações, nem todas as sensações resultam em perceção. Sendo influenciada pela atenção, aspetos motivacionais, tais como a expectativa, estado emocional, experiências anteriores, para além de fatores ambientais, designadamente a duração e a intensidade do estímulo, crenças e tradições, a perceção influencia a interação do organismo com o ambiente. 

No caso de estímulos e variações no interior do corpo, sendo que estes são desencadeados por sinais bioquímicos, forças mecânicas, sinais térmicos ou electromagnéticos, o processo desde a receção de informação à integração e ação é conhecido por interoceção

A capacidade interocetiva é usada para monitorizar o corpo e desencadear a resposta reguladora adequada através da transdução da informação recebida pelo cérebro (via ascendente) em sensações corporais (via descendente). Desta forma, ela permite que o corpo concretize funções básicas de forma automática, tais como o batimento do coração, digestão, coordenação motora, etc., enquanto decorre a interação do organismo com o ambiente externo. As sensações interocetivas permitem, assim, a representação fisiológica do interior do corpo em cada momento. A consciência interocetiva tem influência sobre o comportamento, nomeadamente pelo seu papel na regulação das emoções, assim como na tomada de decisões uma vez que ela está relacionada com a sensação de segurança, contribui para a perceção do indivíduo sobre si próprio e é essencial para a adaptação a variações no ambiente externo.


Os tons
os compassos
ondulam com o vento
envolvem, brandamente
belos lugares recônditos
despertando vivamente
o corpo dormente,
progressivamente
a luz do dia
aclara
latentemente,
o céu noturno expõe
belas estrelas e constelações
unindo remotamente gerações.
E a natureza? Hum! A natureza…
enlaçando silenciosamente
o recetor contempla
a beleza do ínfimo
pormenor.
A coerência funde
suavemente, o corpo
interatua organicamente
com a ordinária presença,
num dia de sol ou chuva,
extraordinariamente
a beleza colateral
desnuda iminentemente.
O corpo sente um impulso
as inter-relações, claramente
cativam-no, categoricamente
unem com desprendimento
comunicam, naturalmente
o enamoramento.

Exteroceção (informação proveniente de estímulos externos) e interoceção (exclui os recetores da pele e inclui os orgãos viscerais, músculos, etc.) intervêm na relação corpo-cérebro-mente. A mente (estados que integram informação diversa - pensamentos, sentimentos e perceções) está alicerçada num corpo senciente; a senciência corporal encontra-se associada a um sistema multissensorial, representa uma forma de autoconsciência e está relacionada com a função cognitiva (faculdade da mente para a aquisição e compreensão de conhecimentos através do pensamento, experiência e sensações) que engloba, nomeadamente, o raciocínio, a memória, a perceção e a imaginação.

Com o ano praticamente a terminar, é natural que memórias do passado e a visão do futuro se enlacem em alguns momentos. Desejo que desfrute de todos eles e não esqueça de sonhar o 2023, com entusiasmo, intenção e enamoramento pelas possibilidades que a imaginação oferecer! 

E quanto à imaginação, não há qualquer dúvida que ela vai mais longe que o conhecimento – Imagination is more important than knowledge. For knowledge is limited, whereas imagination embraces the entire world, stimulating progress, giving birth to evolution (Albert Einstein, 1879-1955).

Seja qual for a nuance, o labirinto ou a coincidência, mesmo que eles não sejam completamente compreendidos, em algum momento e de alguma forma aflui sempre uma esperança e uma força que faz avançar no sentido da concretização de sonhos e relações mais ecológicas. Se a energia despoletada por essa força for o amor, então será na sua direção que todos caminhamos, cada um ao seu ritmo.

Feel the heartbeat, talk from the heart and walk the talk.

Bom Ano!

Pássaro de água
21/12/2022
Solstício de Inverno
(a transição da noite mais longa para o aumento progressivo da duração do dia)

Genoma - a totalidade de informação genética em linguagem de DNA; Epigenoma - modificações genómicas que não resultam de alterações na sequência do DNA mas que podem influenciar o transcriptoma; Transcriptoma - a totalidade de transcritos (RNAs) produzidos pela transcrição de genes codificantes e genes não codificantes; Proteoma - a totalidade de proteínas produzidas a partir de mRNAs.

O corpo humano é um sistema composto por diversos sub-sistemas. As células estão organizadas em estruturas hierárquicas específicas, incluindo tecidos, orgãos, e sistemas de orgãos, que cooperam entre si para a realização de tarefas fundamentais, designadamente crescimento, desenvolvimento, reprodução, e sobrevivência. A identidade celular é caracterizada pela combinação da morfologia e função da célula. Estas propriedades resultam de uma assinatura molecular específica. Essa assinatura envolve a execução de programas específicos que coordenam a informação produzida por redes complexas de moléculas. As características comuns a todas as células incluem a auto-organização, redes de sinalização que interpretam alterações ambientais, redes de expressão e regulação genética, metabolismo e integração metabólica, diferenciação, divisão celular, morte celular programada e comunicação. No caso da expressão genética, a informação do gene (a unidade da hereditariedade) é descodificada em duas etapas, a transcrição e a tradução. A primeira envolve a transferência de informação de DNA para RNA. Na segunda etapa, a informação de uma classe específicas de RNAs (mRNAs produzidos a partir de genes codificantes) é usada na construção de proteínas.  Embora as proteínas sejam os efetores fundamentais das funções celulares, a base da complexidade da célula humana e da variação fenotípica é orquestrada a partir da integração de várias camadas de informação que incluem, nomeadamente, genoma, epigenoma e transcriptoma, mas não só. Essa informação e conhecimento são fundamentais para a compreensão da saúde e da doença. 

   Almada LF, Mesquita LOS (2017) Body, brain and environment: the organism as foundation of the couscious mind. Kínesis Vol. IX, nº 21. doi.org/10.36311/1984-8900.2017.v9n21.10.p110
   Billman GE (2010). The grand challenge of physiology: to integrate function from molecules to man. Front Physiol 1:5. doi:10.3389/fphys.2010.00005.
   Chen WG, Schloesser D, Arensdorf AM et al. (2021). The Emerging Science of Interoception: Sensing, Integrating, Interpreting, and Regulating Signals within the Self. Trends in Neurosciences 44(1):3-16. doi.org/10.1016/j.tins.2020.10.007.
   De Loof A (2016). The cell's self-generated "electrome": The biophysical essence of the immaterial dimension of Life? Commun Integr Biol 9(5):e1197446. doi: 10.1080/19420889.2016.1197446. 
   Karczewski K, Snyder M (2018). Integrative omics for health and disease. Nat Rev Genet 19, 299–310. doi:10.1038/ngr.2018.4
   Openstax Psychology text by Spielman R, Jenkins WJ, Lovett MD. https://openstax.org/details/books/psychology-2e
   Sender R, Fuchs S, Milo R (2016) Revised estimates for the number of human and bacteria cells in the body. PLoS Biol 14(8):e1002533. doi: 10.1371/journal.pbio.1002533 
   Shanta BN (2015) Life and consciousness – The Vedāntic view, Communicative & Integrative Biology 8:5, e1085138. doi:10.1080/19420889.2015.1085138
   Trewavas AJ, Baluška F (2011). The ubiquity of consciousness. EMBO Rep. 212(12):1221-5. doi: 10.1038/embor.2011.218. 
   Vimal RLP (2009) Meaning attributed to the term "Consciousness": an overview. Journal of Consciousness Studies 16(5):9-27. 


Publicação anterior relacionada com o presente artigo: Lovely harmony, Formas e Labirintos, 2020. 

Muito grata por ler-me.

Amor: a rosa, a essência e a poesia mística


Eu, simplesmente
um pequeno pedaço
de um maior do que eu,
se os olhos são diferentes
no olhar também sou eu
pedaço de outro pedaço
maior do que o meu, 
em cada pedaço
há outro eu.

— MaRose, Formas e Labirintos, 2020.
O livro intitulado “O nome da Rosa”, um romance do escritor italiano Umberto Eco (1932-2016), foi lançado em 1980 e adaptado ao cinema em 1986. Em 2019 foi lançada a série de televisão com o mesmo nome. A narrativa desenrola-se em Itália no ano de 1327 e o cenário é um mosteiro beneditino onde um monge franciscano e teólogo imperial, Guilherme de Baskerville, investiga crimes de heresia. Guilherme leva consigo o noviço Adso de Melk. Adso é o narrador da história que relembra acontecimentos da sua juventude. 

Li o livro no início da década de 90. Quando assisti, recentemente, à série TV, uma passagem muito breve e secundária do enredo despertou a atenção: o envolvimento amoroso de Adso com uma jovem mulher. Para o seu sentimento de culpa, ele procura alívio através da confissão a Guilherme. No final, o mestre dirige-se ao noviço afirmando que ele tinha realmente desrespeitado os princípios e as regras da ordem monástica; contudo, não era assim tão horrendo que ele tivesse sido tentado a fazê-lo em face da graça e nobreza de um sexo ao qual até Deus concedeu vários privilégios e do facto da experiência da paixão carnal poder revelar-se útil, no futuro, para desenvolver uma atitude compreensiva e indulgente em relação aos pecadores. Continuando a refletir sobre a paixão, o amor e o amor da amizade, Adso considera que tinha sido salvo por instinto - “A rapariga aparecia-me na natureza e nas obras humanas que me circundavam. Procurei, pois, por feliz intuição da alma, mergulhar na detalhada contemplação daquelas obras [...]. Como era belo o espetáculo da natureza ainda não tocada pela sabedoria, muitas vezes perversa, do homem!”

Nessa altura, viajei até ao “mundo” de Rumi (1207-1273, Jalal ad-Din Muhammad Balkhi Rumi, também conhecido como Mawlana) que é considerado um dos maiores pensadores e estudiosos da civilização islâmica. Poeta, teólogo e erudito persa, as suas obras, pensamentos e ensinamentos foram amplamente traduzidos para muitas línguas e apreciado por crentes de muitas religiões. Para Rumi, o amor não tem religião. De acordo com a UNESCO, Rumi, não sendo exclusivo, é o exemplo de um ser plenamente evoluído que inclui todos e procura o amor, a verdade e a unidade da alma humana (UNESCO. Executive Board, 175th, UNESCO Medal in honour of Mawlana Jalal-ud-Din Balkhi-Rumi, 2006; https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/ pf0000147319).

Se esta secção é dedicada ao Amor, porque não o amor e o amar que Rumi descreve nos seus escritos?  

— "A nossa tarefa não é procurar o Amor, mas fazer ruir todas as barreiras e muros que construímos e que nos impedem de o alcançar. Os que se unem pelo Amor, não têm de acabar por se encontrar num qualquer tempo ou num qualquer lugar; na verdade, nunca estiveram separados, mas sempre juntos, unidos desde a eternidade." (Rumi, O pequeno livro da vida. Maryam Mafi, Azima Melita Kolin, Alma dos Livros, 2020). 

 — "Olha para o teu interior e vê a partir de onde amas. Essa é a realidade, não aquela de que quase todos falam. Os hipócritas dão atenção à forma, à maneira certa e errada de praticar uma crença. Aprende antes sob a luz universal."  (Rumi - Sabedoria Intemporal. José Luís Nunes Martins, Ed. Farol, 2019). 

E, porque não considerar a humanidade como um todo?

—  "Não faço distinção entre o parente e o desconhecido." (UNESCO. Executive Board, 175th, UNESCO Medal in honour of Mawlana Jalal-ud-Din Balkhi-Rumi, 2006).

Love has nothing to do with
the five senses and the six directions:
its goal is only to experience
the attraction exerted by the Beloved. 
[...]

Mathnawi III, 1417-1424

The beauty of the heart
is the lasting beauty:
its lips give to drink
of the water of life.
Truly it is the water,
that which pours,
and the one who drinks.
All three become one when
your talisman is shattered.
That oneness you can’t know
by reasoning.

Mathnawi II, 716-718

https://www.rumi.org.uk/ (quotes, poetry and reflections); Rumi, The book of Love: Poems of Ecstasy and Longing. Coleman Barks, Harper Collins, 2003.
Pássaro de água, Setembro 23, 2022.
Equinócio de Outono

Este artigo está relacionado com a publicação de 2020 intitulada "O Amor, essa magia" (https://passarodeagua.pt/2020/08/03/o-amor-essa-magia/), a essência da existência que é considerada por muitos o caminho para a realização plena do Homem. Um caminho sem fim...

"Há um lugar que está para lá da ideia daquilo que é o certo ou o errado. Encontramo-nos lá." (Rumi, O pequeno livro da vida. Maryam Mafi, Azima Melita Kolin, Alma dos Livros, 2020). 

Publicações relacionadas com o presente artigo:
https://passarodeagua.pt/2022/09/05/divagacoes-esferas-do-pensar-e-do-sentir/
https://passarodeagua.pt/2021/03/28/rapsodia-28-fragmentos/

Agradeço ser informada quanto a eventuais inconformidades.

Molduras que pairam no ar


“A arte é a contemplação: é o prazer do espírito que penetra a natureza e descobre que ela também tem uma alma.” — Auguste Rodin (1840-1917).

O mundo fantástico das nuvens é mais um lugar onde a natureza se revela com ciência e arte. No sentido de valorizar o lado artístico das nuvens, Gavin Pretor-Pinney criou, em 2005, “The Cloud Appreciation Society” (https://cloudappreciationsociety.org/). Em 2006, ele publicou o livro “The Cloudspotter’s Guide” (O guia do observador das nuvens) – “As nuvens são a poesia da natureza e a mais igualitária das suas manifestações já que todos têm uma visão igualmente fantástica delas. Elas são para os sonhadores e a sua contemplação beneficia a alma”. Segundo o autor, “não há nada mais estimulante para uma mente curiosa que ser surpreendido por algo que é tão comum e geralmente pouco valorizado, e que possibilita uma conexão com a natureza sem sair do lugar”. Paradoxalmente, esse património imaterial coletivo que paira no ar ajuda a “manter os pés na terra” (Pretor-Pinney).

Para Thich Nhat Hanh (monge budista, pacifista e defensor dos direitos humanos, escritor e poeta Vietnamita) “uma nuvem nunca morre”.

As nuvens são elementos essenciais do ciclo da água uma vez que devolvem eventualmente a àgua à Terra pela precipitação. Uma vez que a água é o principal constituinte dos fluídos dos seres vivos, o ciclo da vida depende do ciclo da água.

Em qualquer ciclo, a sequência de acontecimentos assume um padrão circular. E o círculo, um elemento sem início nem fim, simboliza a eternidade (https://passarodeagua.pt/2021/08/21/a-magia-do-8/; https://passarodeagua.pt/2021/01/01/2021/). Se a sequência de acontecimentos do ciclo se repetir indefinidamente, o simbolismo será o mesmo.

Morte e imortalidade (e multidimensionalidade) são aspetos da existência dos quais normalmente pouco se fala mas que podem ajudar a manter os pés na terra. Curiosamente, a série televisa “The OA” (2016-2019, https://www.imdb.com/title/tt4635282/) foca estes aspetos e o melhor é avaliá-la por si mesmo.

Independentemente do subentendimento sobre o ciclo da vida há uma coisa que é certa, a vida na Terra inicia e termina do mesmo modo para todos os seres vivos. O Homem é um ser sapiente e sensiente, “… que os homens são anjos nascidos sem asas, é o que há de mais bonito, nascer sem asas e fazê-las crescer, isso mesmo fizemos com o cérebro, se a ele fizemos, a elas faremos…” (José Saramago, Memorial do convento). Segundo Thich Nhat Hanh, somos o sonho enquanto sonhamos, a montanha, o pássaro, a flor, o mar ou a nuvem enquanto os contemplamos, ou o amor enquanto sentimos paixão (texto adaptado). “Sou entre flor e nuvem,/ estrela e mar/ Por que havemos de ser unicamente humanos,/ limitados em chorar?” (Cecília Meireles, Mar Absoluto e Outros Poemas, 1945). A construção desta realidade assenta na admiração recíproca que é estabelecida entre o observador e o observado, seguramente menos racional e mais sensorial, intuitiva e imaginativa. Por isso, em cada momento há uma infinidade de opções e a contemplação das nuvens é apenas uma delas. Se pode ser uma experiência admirável, talvez até irrepetível, e naturalmente acessível a partir de qualquer lugar, porque não experimentá-la reiteradamente? Duvido que a volatilidade das formas e o imaginário que é possível recriar observando a sua transformação deixe alguém indiferente à metáfora da nuvem…

Pássaro de água, Julho 2022.

Quando o inimaginável acontece…


It was a long way
surely with nights and days
until a sunny place has come to me
 regardless all the others that can also be.
I’m thankful from the deepest of my heart 
to all bright stars, butterflies and ninjas 
for all the inspiration to clearly see
the life as a meaningful place
far greater than me.

Inesperadamente, sem uma relação causal, dizemos que ocorreu uma coincidência. Para Carl Gustav Jung (médico suiço, fundador da Psicologia Analítica, 1875-1961), a simultaneidade de dois ou mais acontecimentos sem uma relação causal mas relacionados por um significado é uma sincronicidade. Existindo um significado, muito provavelmente ele será subliminar e subjetivo. Nessa medida, o registo descritivo destes acontecimentos pode revelar-se muito útil, não apenas para memória futura e análise retrospetiva, mas também para facilitar a identificação de padrões – formas de organização e apresentação da informação – que, pela sua repetição ou pela repetição de alguns dos seus elementos, poderão estar associados, subjacentemente, à natureza desses acontecimentos. A partir desse referencial, a análise global da informação pode fornecer pistas importantes para o esclarecimento do significado da simultaneidade desses acontecimentos e aprofundar o autoconhecimento. Independentemente das perceções sobre este assunto, e todas elas são válidas, as coincidências, sejam elas aparentes ou não, continuarão a surpreender-nos dia após dia!

Pássaro de água, Abril 2022.

Uma pausa, uma janela e um pássaro


No parapeito da janela mais ampla da casa pousou recentemente um pássaro. A sua plumagem era exuberante, as cores intensas em tons de azul, verde e dourado. Abri a janela cuidadosamente e o pássaro avançou, diligentemente. Com uma postura calma e confiante, ele perscrutou longamente o interior da divisão. Quando recuou no parapeito da janela, vocalizou uns sons e afastou ligeiramente as penas das asas.

Aproximei-me, silenciosamente, para observar de perto a sua plumagem. As cores encontravam-se perfeitamente combinadas formando padrões geométricos complexos e simetricamente posicionados.

Enquanto processava as singularidades desse pássaro, a atenção recaiu, momentaneamente, sobre a linha do horizonte que se apresentava matizada de magníficos tons dourados interpostos entre o azul cobalto e o azul claro.

Um tom ligeiramente mais claro e vibrante contornava um grupo de nuvens brancas ligeiramente rarefeitas na periferia. A semelhança entre a sua forma peculiar, levemente hexagonal e circular, e o padrão geométrico repetitivo das cores das penas das asas do pássaro era surpreendente.

Completamente rendida, fechei os olhos e voei livremente até lugares inesquecíveis com um potencial indescritível!

Desde esse dia, o pássaro aparece regularmente no parapeito da janela. Viajo nas suas asas repetidamente, por um período de tempo perfeito!

Pássaro de água, Março 2022.

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