Realizações, recordações e reinvenções

Os sonhos integram o património individual imaterial. Eles são como as nuvens, transformam-se e transformam-nos... de sonho em sonho, que é como quem diz, de nuvem em nuvem, observamos a natureza de outro lugar, admirável, imaginativa e desconcertante. Se há um ano idealizei relações mais ecológicas (https://passarodeagua.pt/2022/12/29/3rs-2022/), agora é o momento perfeito para imaginar que as parcerias, em sentido amplo, irão prosperar em 2024 a partir de 4Cs – Cuidar com Compromisso e Coerência a partir de um lugar no Coração, numa palavra só, com sustentabilidade. Se foi possível conceber esta ideia na imaginação, haverá seguramente uma fórmula acessível para a concretizar e, eventualmente, ela estará mais facilitada em 2024. Podemos começar por celebrar o que concretizámos em 2023 uma vez que é a partir desse lugar que continuaremos a evoluir em 2024, e todos seremos desafiados a voar um pouco mais alto no próximo ano, isso é certo! O meu desejo é que aceitemos esse desafio, de coração aberto, respeitando o ritmo de cada coração. Eu acredito no discernimento e na bondade do Homem. E tu? Um ano extraordinário para todos. Pássaro de água, Dezembro 2023.

Nesta envolvência branca que simboliza pureza, juventude, tranquilidade e clareza, imagine inúmeros pontos brilhantes de diferentes cores… o seu é um deles e é perfeito. Experimente seguir a sua própria luz Ela será sempre o seu melhor amigo.
Pássaro de água, Dezembro 2023.
Eu e tu, simplesmente / Pedaços de um pedaço maior / Em tudo somos diferentes, no olhar um só / Pedaço com vida, assim como eles / Inúmeros pequenos pedaços, todos unidos / Pela natureza da vida, ela é uma só.
Pássaro de água, Dezembro 2023.


«Eles não sabem nem sonham / Que o sonho comanda a vida / E que sempre que o homem sonha / O mundo pula e avança / Como bola colorida / Entre as mãos de uma criança» (Pedra Filosofal, António Gedeão, 1956). Mas nós sabemos e sonhamos, certo? Então, podemos sonhar a paz e é tão simples sonhar… basta imaginar que todas as pessoas vivem a vida em paz e sentir o momento como se o desejo já tivesse sido concretizado. Não é bom sentir essa paz? A replicação intencional desse sentir subentende uma atuação mais pacífica aproximando, assim, o sonho da realidade. Imagine o que seria se todos sonhássemos a paz!
Pássaro de água, Dezembro 2023.
Pare sem paralisar, reajuste o tom, sorria e ame, muito.
Pássaro de água, Novembro 2023.


O perdão e a gratidão abrem todas as portas do coração.
Pássaro de água, Agosto 2023.
Comunicação não verbal

A comunicação é o processo de transferência de informação sob a forma de mensagem entre pelo menos um emissor e um recetor através de sinais mutuamente entendíveis.
A comunicação implica a linguagem verbal (falada ou escrita) e a linguagem não verbal.
A importância da linguagem não verbal foi originalmente assinalada na década de 60 por Albert Mehrabian (Professor de Psicologia e investigador da linguagem corporal). No âmbito da comunicação das emoções, ele criou a regra dos 7-38-35 que representa, respetivamente, o peso relativo do conteúdo das palavras (7%), tom de voz (38%) e linguagem corporal (55%); se existir conflito entre o conteúdo da mensagem oral e a mensagem não oral, as expressões faciais e o tom de voz têm uma impacto de cerca de 90% na comunicação de emoções e sentimentos.
A comunicação não verbal compreende não só os movimentos do corpo, como é o caso dos gestos e expressões faciais, mas também o contacto visual, o tempo de resposta, o tato, o espaço e distanciamento, o aspeto físico, a paralinguagem (elementos que acompanham a linguagem verbal e incluem todas as características da voz, nomeadamente o tom, o volume e a qualidade vocal), o silêncio, entre outros.
Através de mensagens subliminares, comunicamos não verbalmente constantemente, não só emoções e sentimentos mas também, por exemplo, intenções, atitudes, aspetos da personalidade e humor, eventualmente com menor consciência e autocontrole do que na linguagem verbal.
Na interação social, a linguagem não verbal pode ter um impacto considerável na harmonização, como acontece, geralmente, com a espontaneiadade de um sorriso.
É caso para dizer que a naturalidade favorece a consistência da comunicação, beneficiando a interpretação de emoções e sentimentos, e uma comunicação mais eficaz e ecológica, seguramente com maior empatia.
Pássaro de água, Agosto 2023.
“En realidad, toda filosofía es esotérica, por cuanto constituye un amor a la sabiduría que todavía no poseemos, por aquello que todavía está escondido a nuestra visión. Y eso es lo esotérico: lo oculto, lo escondido, no por maldad premeditada de nadie, sino por nuestra propia ignorancia.”
Delia Steinberg Guzmán (filósofa e escritora, 1943-2023).

O mundo das nuvens é um lugar incrível para observar a impermanência das formas e a dinâmica fluída e subtil da sua sucessão.
A admiração pelas formas e peculiaridades das nuvens pode desencadear um estado contemplativo, despertando o observador para mundos imaginários que são recriados de forma inusitada, inesperada e surpreendente através da volatilidade das formas e do detalhe extraordinário que é revelado pela luz.

Sempre que o observador se identifica com o observado algo extraordinariamente singular e espontâneo acontece. É a natureza das coisas!
O mundo das nuvens talvez represente um lugar onde a natureza revela ao observador todo o seu esplendor mostrando que ela, afinal, também tem uma alma! Um lugar semelhante a muitos outros mas privilegiado porque é acessível a todos de qualquer local.
Pássaro de água, Agosto 2023.
Superlua: do ritmo ao isoterismo e misticismo

Cronobiologia é a ciência que explora os ritmos biológicos. A maior parte dos estudos têm incidido sobre o ciclo solar diário e anual, investigando o seu efeito na fisiologia e comportamento humano. Por exemplo, o sono e reprodução ocorrem de forma repetitiva e temporalmente sincronizada com a alternância de dias e noites, ou as estações do ano. A sua dessincronização pode afetar a saúde e o bem-estar. A crença de que a lua cheia pode afetar o comportamento humano tem sido considerada um mito pela comunidade científica. A inexistência de concordância entre os resultados de estudos epidemiológicos poderá estar relacionada com o facto da poluição luminosa ter reduzido consideravelmente a variação da luminosidade do céu noturno na fase lunar, para além do fator de exposição direta por se encontrarem em casa. Nas últimas duas décadas, vários estudos têm demonstrado que a luz da lua influencia a fisiologia e o comportamento de vários animais, incluindo mamíferos, nomeadamente primatas. Avanços científicos recentes sugerem que a variação de luminosidade durante o ciclo lunar pode afetar os ritmos biológicos humanos de várias formas não mutuamente exclusivas. O ciclo lunar refere-se ao período de 29,5 dias (mês lunar) em que a Lua orbita em torno da Terra e às 24,8 horas (dia lunar) que são necessárias para que a Lua passe pelo mesmo ponto da Terra. Estes dois ciclos originam vários ciclos ambientais relacionados com os níveis de iluminação, as marés ou os campos geomagnéticos. Nos animais e plantas, estas alterações ambientais podem afetar o seu comportamento, fisiologia ou capacidade adaptativa. A associação da lua cheia ao ciclo do sono através da redução do nível de melatonina sugere a sua relação com o humor. Uma outra hipótese consiste na alteração do campo eletromagnético terrestre. Perturbações por interferência da Lua poderão produzir efeitos biológicos, por exemplo ao nível da melatonina ou do fluxo de cálcio, em organismos especialmente sensíveis ao eletromagnetismo. Se os efeitos forem variáveis, dependendo largamente da sensibilidade e perceção individual, e a sua intensidade fraca, então é possível que os efeitos gravitacionais da lua, a luz da lua cheia ou as alterações dos campos gravitacionais terrestres sobre a biologia humana representem questões cientificamente ainda complexas.
Em algumas culturas, as luas cheias têm nomes específicos e estão associadas à prática de rituais que privilegiam a ligação com a natureza e o fortalecimento das relações interpessoais. Adicionalmente, a sincronização de forma consciente com as fases da lua também pode representar uma ferramenta espiritual e de autocuidado, nomeadamente através de autoreflexão na lua cheia e da definição de intenções na lua nova.
Lua cheia… Oh! Duas superluas estes mês, no dia 1, no signo de Aquário, e no dia 30, em Peixes.
Superlua é a designação da lua cheia na posição mais próxima da Terra (perigeu). Nestas ocasiões, a lua parece maior e mais brilhante, assim como deverá ter penetrado mais no campo eletromagnético terrestre do que uma lua cheia normal.
A lua cheia corresponde a um círculo completo, geralmente com um contorno brilhante à volta da face iluminada. Na simbologia das formas, o círculo é associado ao ponto e ambos representam sinais de perfeição, união e plenitude. O círculo também simboliza movimento e expansão (o fim representa o início).
Hum! Uma superlua em Peixes… um signo influenciado pela água.
Todos temos os 12 signos no mapa astral. Os signos são categorizados em masculino (Yang) e feminino (Yin) . Eles alternam entre si dividindo o círculo do zodíaco em duas polaridades. O primeiro signo do zodíaco é Áries (masculino) e o último Peixes (feminino). Grupos de três signos astrológicos são associados aos elementos ar, terra, fogo e água.
A visão filosófica de que a natureza possui estes quatro elementos é atribuída ao filósofo pré-socrático Empédocles que procurou resolver a discordância entre Parménides e Heráclito quanto à natureza das coisas. Para Parménides nada muda, desconsiderando os elementos, enquanto que Heráclito defendia que a natureza está em constante transformação sendo o fogo o elemento primordial de todas as coisas.
Peixes está ssociado a uma constelação do zodíaco. Uma constelação é um conjunto de estrelas. O seu agrupamento permitem imaginar uma dada figura na esfera celeste. O nome das constelações do zodíaco está associado à mitologia grega. Peixes representa Afrodite (a deusa da beleza e do amor que na mitologia romana é conhecida por Vénus) e o seu filho Eros (o deus da paixão e do erotismo, o Cupido na mitologia romana).

Segundo a mitologia grega, Afrodite e Eros foram transformados em dois peixes para escaparem ao monstro Tífão. Para que não se perdessem um do outro nas profundezas da água ataram-se com um cordão. O signo é representado por dois peixes ligados entre si que nadam em sentidos opostos, simbolizando a procura do equilíbrio através da integração das polaridades.
Características frequentemente associadas aos indivíduos que nasceram sob a influência do signo Peixes: idealista, sensível, compreeensivo, empático, compassivo, mutável, intuitivo e criativo.
Se a lua cheia acentuar as características dos signos onde ela ocorre, imagine-se uma superlua! No domínio das perceções, as experiências são subjetivas, não existindo o certo ou o errado. Mas podemos estar recetivos ao inesperado, inusitado ou inverosímil, uma atitude que caracteriza tanto o cientista como o artista.
Beneficiando desta influência astrológica, a próxima lua cheia poderá facilitar a exploração de territórios habitualmente menos visíveis, assim como a experiência da perfeição e plenitude através da unidade na dualidade. Eventualmente, um momento privilegiado para a reorganização e realinhamento do mundo das relações. Seja com o mundo interior, o mundo exterior (pessoas, outros animais, plantas, populações, comunidades ou ecossistemas) ou ambos, o talento de cientista e o talento de artista que existe em cada um de nós poderá despertar, uma vez mais, para a reconstrução de uma identidade mais consentânea com a imensidão da riqueza da dimensão humana.
Pássaro de água, Agosto 2023.
Andreatta, G., and Tessmar-Raible, K. (2020). The still dark side of the moon: molecular mechanisms of lunar-controlled rhythms and clocks. J. Mol. Biol. 432, 3525–3546. doi: 10.1016/j.jmb.2020.03.009. Bevington M. (2015). Lunar biological effects and the magnetosphere. Pathophysiology. 22(4):211-22. doi: 10.1016/j.pathophys.2015.08.005. Kronfeld-Schor N, Dominoni D, de la Iglesia H, Levy O, Herzog ED, Dayan T, Helfrich-Forster C. (2013) Chronobiology by moonlight. Proc R Soc B 280: 20123088. doi: 10.1098/rspb.2012.3088. Wehr, T. (2018). Bipolar mood cycles and lunar tidal cycles. Mol Psychiatry 23, 923–931. doi: 10.1038/ mp.2016.26.

“No somos perfectos, pero somos capaces de concebir lo que es la perfección. La acción es preferible a la inacción y el compromiso con la vida es preferible a la indiferencia apática.”
Delia Steinberg Guzmán (filósofa e escritora, 1943-2023).
Perfeição ou plenitude?

O corpo é constituído por matéria. Elementarmente, ela é o resultado de uma associação precisa entre moléculas cuja unidade básica é o átomo. O átomo é uma partícula constituída por um núcleo central de carga elétrica positiva envolvida por uma nuvem de eletrões de carga negativa que apresenta uma massa reduzida em relação ao seu volume. Os eletrões apresentam comportamento de partícula e de onda, e estão distribuídos por orbitais atómicas consoante a sua energia.
O cientista Carl Sagan (1934-1996), reconhecido pelo seu trabalho no domínio da astrofísica, na obra intitulada “Cosmos” publicada em 1980 reflete sobre as diferentes dimensões do universo. O autor apresenta uma perspetiva interesssante da matéria: «Os átomos são principalmente espaço vazio. A matéria é composta principalmente de nada».
António Damásio, médico e neurocientista, refere na publicação intitulada “A estranha ordem das coisas” (2017) que a qualidade da experiência (agradável ou desagradável) está, geralmente, correlacionada diretamente com o estado fisiológico do corpo. Segundo o autor, a perceção de bem-estar implica que os mecanismo internos de compensação envolvidos no estabelecimento do equilíbrio fisiológico (homeostasia) estão dentro dos limites de eficiência expectáveis para a manutenção da vida; a eficiência máxima será, nesta ordem das coisas, promotora de saúde e bem-estar.
O equilíbrio do organismo é o resultado de uma rede intrincada e complexa de processos altamente coordenados que ocorrem ao nível físico, intelectual e emocional.
Segundo António Damásio, os sentimentos são experiências mentais diferentes daquelas que retratam o mundo que nos rodeia (mundo exterior) – são experiências conscientes (temos conhecimento da sua existência) desencadeadas por sensações e emoções.
E, bem sabemos que a alegria e a tristeza são inseparáveis. O que nos entristeceu dá-nos agora alegria e o que antes tinha sido a razão da alegria é agora a razão da tristeza. Quando um está desperto, o outro está dormente. É a ordem natural das coisas. Ela é estranha? Encontrar um equilíbrio entre os elementos contrário do par, de forma intencional e disciplinada pode ser um desafio, mas também uma oportunidade para melhorar o nível de coerência entre pensamentos e sentimentos, e a partir do único lugar que parece tornar isso possível, o coração, em amor, naturalmente.
As emoções e sentimentos desagradáveis, dentro de certos limites, não só alimentam o processo normal de retroação conducente a um reequilíbrio natural, como também refletem o estado do mundo interior.
Quanto à tendência do cérebro para a negatividade e dramatização, ela é natural, tal como o poeta Fernando Pessoa decifrou, «o sentimento abre as portas da prisão com que o pensamento fecha a alma»! Sim, é certo. Hoje, é claro que os processos biológicos e as estruturas associadas não são fisiologicamente precisos e o cérebro não é exceção, naturalmente, há perfeitas imperfeições!
Em vez de perfeição, talvez seja preferível considerar tangível a noção de plenitude (inteiro, completo, cheio), naturalmente perfeitamente imperfeita… E, não será isto a felicidade?
Desfrute, ria, dance, cante, encante, mantenha-se recetivo ao extraordinário que irrompe do ordinário, sorria, agradeça… Os estados agradáveis, permeados por pensamentos e sentimentos positivos, promovem indistintamente o abraço e alicerçam estados de maior fraternidade.
A “chave” é amar, amar tudo, inclusivamente aquilo de que não se gosta nada.
Pense como era em criança, sinta essa criança, a sua alegria, os seus sonhos, abrace-a efetivamente, ame-a inteiramente.
E se soubesse que não haveria amanhã, o que faria neste momento? E ele não está garantido, pois não?
Pássaro de água, Agosto 2023.
Viver a vida

A expressão “viver a vida” recorda-me a canção “Viva La Vita” da banda inglesa Coldplay. Sempre que a ouço não permaneço indiferente, bem pelo contrário… o corpo reage espontaneamente, demonstrando uma admirável vitalidade que parece provir de um lugar onde residem os sonhos e as convicções! Acontece o mesmo consigo?
O corpo (em sentido amplo) atua como recetor e emissor de informação, o som, por exemplo. Através da audição, a energia que é propagada e transmitida pelas ondas sonoras (energia do som) é transformada em sinais elétricos em resultados da vibração e esses sinais são enviados ao cérebro, possibilitando a sua perceção
Por vezes, a escolha da música é intencional, outras, ela resulta de uma perceção subliminal, podendo até refletir o estado de alma do momento. É caso para dizer que o corpo tem uma sabedoria natural!
O título da canção “Viva La Vita” é uma referência à última obra da pintora mexicana Frida Khalo (1907-1954), também intitulada “Viva La Vida”. A letra explora a natureza temporária das coisas e a importância da humildade a partir de uma perspetiva antiautoritária.
Pássaro de água, Agosto 2023.

Rumi (Jalal ad-Din Muhammad Balkhi Rumi, 1207-1273), é considerado um dos maiores pensadores e estudiosos da civilização islâmica. Poeta, teólogo e erudito persa, as suas obras, pensamentos e ensinamentos foram amplamente traduzidos para muitas línguas e apreciado por crentes de muitas religiões.
Para Rumi, o amor não tem religião.
Felicidade

A aprendizagem pela experiência é um processo contínuo e fundamental para o esclarecimento de qualquer questão.
Se por “felicidade” entendermos um estado de bem-estar geral caracterizado por prazer e fluidez, subjacentemente emergem os conceitos de autonomia, eficiência, autoregulação e sustentabilidade que são indissociáveis do conceito filosófico de unidade e da noção de harmonia – uma articulação coordenada entre as partes que constituem o todo associada a um estado de coerência global.
Se os mesmos princípios elementares da natureza são aplicados a todas as coisas, o mesmo acontecerá com os sistemas, pequenos ou grandes, células, organismos, ecosistemas, famílias, organizações…
Relativamente aos seres vivos, a unidade fundamental da vida é a célula. O ser humano integra outros níveis de organização, tecidos, orgãos e sistemas de orgãos. Uma vez que o organismo é mais do que a simples soma das suas partes, estranho seria se esse estado de perfeição – equilíbrio fisiológico- que é articulado coordenadamente entre os diferentes níveis de organização, desde logo a partir das inúmeras unidades, as células, que constituem todos os outros níveis hierárquicos, não fosse aplicável ao organismo em si mesmo.
Se o conceito de felicidade estiver associado à perfeição e harmonia, então a felicidade existe, é tangível e implica o físico e o metafísico, o material e o imaterial, envolvendo aquela dimensão que está para lá da soma das partes e que assume várias designações consoante a cultura e a crença.
Dada a natureza subjetiva da felicidade, essa tangibilidade poderá solicitar uma reflexão individual no sentido da desconstrução do todo em partes e reconstrução. Conceptulamente é um processo simples; porém, não deve ser simplificado, englobando uma visão, um objetivo, uma estratégia, um planeamento, a operacionalização das tarefas, nomeadamente assegurando a mobilização de recursos adequados, execução e monitorização da eficácia avaliando regularmente o grau de concretização dos objetivos.
Será um autoprojeto personalizado, elaborado pelo próprio, sobre si próprio e as suas singularidades- uma autorrepresentação com auto-observação e autoavaliação, e através dele próprio, com influências externas variadas, para ele próprio em primeiro lugar e depois para a comunidade. Uma construção de si mesmo… mas, nem tudo é racional!
As quatro funções psicológicas (sensação, pensamento, sentimento, e intuição) são importantes para a experienciação (experiência mental), seja ela de natureza física ou não física, material ou imaterial. Sintonizarmo-nos com cada uma delas ao longo do processo pode ser muito útil na medida em que isso permitirá compreender melhor como elas se manifestam no corpo (sentido lato), assim como a contribuição de cada uma delas na experienciação. O autoconhecimento resultante poderá mudar a perceção da realidade, interna e externa, conferindo outra autoconsciência, nomeadamente acerca dos propósitos.
Havendo propósito, há motivação, compromisso, um foco maior no caminho do que no destino, disciplina, fluidez, criatividade, leveza e alegria; sentimo-nos inteiros, um estado de enamoramento alicerçado no amor e na convicção (uma interseção entre o material e o imaterial).
«Creio para compreender e compreendo para crer melhor», Santo Agostinho, Agostinho de Hipona, filósofo e teólogo, 354-430 d.C.).
As palavras são escassas ou simplesmente não existem para descrever coisas subjetivas e imateriais. Talvez isto justifique a frase controversa de Albert Einsten (1879-1955) «Só há duas maneiras de viver a vida: a primeira é vivê-la como se os milagres não existissem. A segunda é vivê-la como se tudo fosse milagre». Uma perceção de algo perfeito e maravilhoso que é partilhada, aparentemente, por Leon Tolstoi (escritor, 1828-1910), «Ao chegar a certo nível de autoconhecimento, o indivíduo compreende algo de sobrenatural em si mesmo». Mas no final, é apenas uma perceção de indivíduos únicos e caminhos singulares.
Se a interpelação acerca do propósito ocorrer no caminho e nem tudo parecer racional, vale a pena conceder-lhe atenção. Muito provavelmente irá conduzir ao caminho do esclarecimento sobre a própria vida, a sua natureza, a noção de perfeição que, na falta de melhor termo, é o amor. E, se esse for o propósito da vida, então o mesmo acontecerá com todos nós, em momentos diferentes mas, seguramente, ao longo do caminho e de forma bem natural!
Pássaro de água, Julho 2023.
Sonoridades

Permanentemente, a estimulação multissensorial desencadeia experiências mentais. A perceção visual da realidade está relacionada com o mundo das formas segundo tendências inatas que poderão ser adaptadas ao ambiente, como acontece com a luminosidade. Um outro estímulo importante é o som.
O corpo humano emite sons através da inalação e exalação, e da própria voz, um elemento identitário que é usado como veículo de comunicação e instrumento musical, assim como recebe ondas sonoras do ambiente, com diferentes frequências, a todo o momento.
O potencial musical existe na natureza, por exemplo com o vento intermitente, o movimento das folhas à passagem do vento, a chuva, a ondulação do mar, ou o chilrear dos pássaros.
Para além dos inúmeros estímulos sonoros do nosso quotidiano, quase todos os objetos que integram o nosso dia a dia podem ser usados como um instrumento musical, constituindo um repositório notável de inspiração e criatividade facilmente acessível a qualquer um.
Não sei se conseguiríamos viver sem música!
A música, como qualquer outra manifestação artística, reflete o pensar e o sentir, é o espelho da alma, pode refletir emoções positivas ou negativas. Através dela desenvolvemos uma relação de intimidade com nós mesmos e com os outros.
Na verdade, o interesse científico crescente pela música tem revelado a sua enorme potencialidade ao nível da melhoria das funções congnitivas, estado emocional, comportamento individual e relações interpessoais, na saúde e na doença. Influenciando aspetos muito diversos, tais como concentração, memória, motivação, criatividade e sono, a música representa uma ferramenta interessante para manter e repor o equilíbrio.
Situações mais ou menos adversas, mais ou menos perfeitas, acontecerão sempre. Controlamos quase nada, mas podemos praticar o autocuidado, físico, intelectual e emocional. Nesse sentido, a música representa uma ferramenta, entre muitas outras.
Somos seres vulneráveis e os dois pólos, características positivas e negativas, integram a natureza humana. Considerar que em todas as coisas há ciência e arte pode ajudar a desenvolver pensamentos e sentimentos positivos, melhorando a perceção de bem-estar.
Desfrute, deslumbre-se e encante! Em tudo o resto, de acordo com as motivações, capacidades, potencialidades e crenças, se existir propósito, não faltará prazer, alegria e fluidez .
«Somos o que fazemos todos os dia. A excelência não é um ato, mas um hábito.» (Aristóteles?)
Pássaro de água, Julho 2023.
Consciência e conflito de opostos.

A ideia de que o todo é mais do que a simples soma das suas partes foi retomada no final do séc. XIX com uma corrente que ficou conhecida por psicologia da Gestalt (forma ou configuração). Ela parte do princípio que a perceção está relacionada com capacidades inatas do organismo associadas ao funcionamento do cérebro e que a perceção é mais do que a soma de elementos sensoriais.
De acordo com o gestaltismo, os organismos percebem a mesma forma a partir de duas propriedades básicas, a totalidade (configurações inteiras, estruturas organizadas ou padrões, e não os seus elementos) e a estrutura (se a relação entre as partes for mantida apesar delas serem modificadas). Fatores condicionantes são a relação forma-fundo (contraste e relevo), a estabilidade da perceção e a forma, sendo regulares e simétricas são mais facilmente percecionadas. Do mesmo modo, esta corrente considera que a consciência, pela sua complexidade, também só pode ser compreendida a partir da totalidade.
A consciência ainda é um mistério para a ciência. Ela implica a perceção da realidade a partir de representações mentais sensoriais (experiência mental) e conteúdos mentais selecionados que, globalmente, estão relacionados com o entendimento que é feito da experiência (vivência) a partir do sentimento e conhecimento.
A dificuldade de definição e compreensão da consciência resulta da sua natureza subjetiva e da experiência não ser física. Contudo, não há qualquer dúvida de que o conhecimento sobre a nossa existência e a existência daquilo que nos rodeia existe no estado da mente e associado à experiência mental. Dada a sua natureza informativa e o princípio da integração, é natural que a sua expansão ocorra na sequência das vivências que estimulam a sensiência e o conhecimento (awareness).
Segundo Carl Jung (Memories, dreams and reflections, 1961), «nada promove tanto o crescimento da consciência como [o] confronto interior de opostos». Na filosofia pré-socrática, o confronto de opostos foi associado à mudança contínua de todas as coisas existentes na natureza; praticamente 2500 anos depois, ele é aplicado ao mundo interior, também ele repleto de pares de elementos contrários (seja ao nível dos sentimentos ou pensamentos), complementares entre si, e indissociáveis do conceito de unidade.
É bem provável que os problemas que permanecem insolúveis sejam, pelo menos em parte, o reflexo do conflito de opostos. A sua resolução desencadeia uma mudança… onde antes existia uma parede surge naturalmente um caminho que enlaça perfeitamente elementos dessa parede com elementos novos que se cruzam no caminho. Em resultado disso, o conhecimento acerca de nós próprios e daquilo que nos rodeia não só é maior, como também suficiente para avançarmos no caminho. Deste ponto de vista, o problema (a encruzilhada ou a tempestade) pode ser uma coisa boa. A integração sucessiva de opostos (luz e sombra) pode conduzir à formação de uma unidade maior do que a anterior. Independentemente da forma como a unidade expande (a resolução do conflito de opostos é apenas uma delas), a expansão conduzirá a um outro nível de equilíbrio, e, eventualmente, a um estado de plenitude. Na simbologia das formas, a totalidade e a perfeição são associadas ao ponto e ao círculo.
Como os sonhos são experiências conscientes, a sua observação pode fornecer informações úteis quanto à natureza e ao sentido da mudança ou transformação. Como o detalhe nem sempre é percetível, a informação pode ser recebida sob a forma de um padrão (totalidade), mais ou menos como acontece com a perceção das formas.
Os sonhos integram o património individual imaterial. Eles fazem parte da nossa identidade, são uma fonte de autoconhecimentos e tonificam os “circuitos” subjacentes à autoconsciência. Hum… E, às vezes, eles parecem bem reais!
Pássaro de água, Julho 2023.
Realidades: o todo e as partes

“O todo é maior que a simples soma das suas partes” (Aristóteles, filósofo, 384 -322 a.C., Metaphysica).
A compreensão do todo, a unidade, pode ser alcançada a partir de uma abordagem integrativa que consiste na sua desconstrução, análise das características de cada uma das suas partes e reconstrução do todo com a reintegração das partes.
O mesmo acontece com a resolução de um problema. Uma vez definidos os seus elementos, eles são desagregados, o papel de cada um deles definido, as questões formuladas de perspetivas diferentes, as possibilidades de resposta analisadas criticamente, a informação selecionada e integrada, os elementos agrupados e o resultado formulado.
Em algumas situações, uma visão panorâmica preliminar do todo original pode revelar-se útil e importante para uma identificação clara das suas partes.
Esta abordagem integrativa explora a complementaridade existente entre a abordagem reducionista e a abordagem holística que, individualmente, apresentam vantagens e desvantagens. Partilhando o mesmo objetivo, o conhecimento do todo é, porém, alcançado a partir de estratégias divergentes; no primeiro caso a partir de uma análise racional, objetiva e quantitativa das partes, enquanto que no segundo caso é privilegiada a recontextualização das partes num modelo que contempla o todo.
Em qualquer dos casos, é sempre uma experiência. Essa experiência pode integrar um número variável de etapas e reflexões e resultará em aprendizagem se os conhecimentos alcançados em cada etapa forem integrados sucessivamente no todo. O processo de reformulação do todo pode ser tão sedutor como as novas dimensões do todo que o processo revela.
Dada a natureza iterativa do método integrativo, existe a possibilidade dele proporcionar uma compreensão mais aprofundada acerca das partes e do todo, uma visão mais ampla do problema e várias possibilidades de solução.
Com exceção das questões realmente inovadoras, a maior parte já foi de alguma forma equacionada e explorada por tantos outros, muito antes de nós… Oh! Não é um privilégio usufruir desse legado conceptual e ideológico para o estabelecimento do nosso próprio ponto de vista? Atualmente, com a acessibilidade da informação, essa tarefa, se por um lado está mais simplificada, por outro requisita outro nível de refinamento, quanto questionamento, seleção e validação da informação.
A natureza de todas as coisas tem ciência e arte, uma parte objetiva e outra subjetiva, uma parte material e outra imaterial. Os dois aspetos que necessariamente compõem o todo são o reflexo da sua singularidade e conferem à unidade uma identidade.
Em si mesma, nenhuma coisa é boa ou má. Ser bom ou mau depende do contexo e da forma como a vemos. O mesmo acontece com um problema. Hum… E não é verdade que existe uma solução para quase tudo? Olhar para o problema com curiosidade e como uma oportunidade não só facilita a sua resolução como também pode conduzir à expansão dos conhecimentos. Da forma como olharmos a realidade, assim ela será, um reflexo natural da forma como pensamos, sentimos e agimos. Se a olharmos com surpresa e admiração, assim ela o será, surpreendente e admirável, quase todos os dias…
Pássaro de água, Julho 2023.
Liberdade
Questionar o conhecimento com curiosidade e procurar as respostas com método e sensibilidade pode desenrolar um caminho original que se revela com autenticidade pela imaginação e criatividade.

Imagine as experiências de uma vida descritas num livro com vários capítulos. Haverá alguém que conheça melhor o livro que o seu autor, ele que cocriou o seu próprio caminho? No início, a familiaridade da narrativa suscita, simultaneamente, estranheza e admiração. Com a continuidade da leitura, uma admirável sedução pela beleza da escrita e o engenho da narrativa acentua a curiosidade e o prazer, prendendo a atenção do leitor. Os capítulos desenrolam-se dentro de labirintos que, estando unidos entre si num único ponto, podem ser alcançados por uma infinidade de caminhos. Meticulosamente desenhados, cada labirinto apresenta, aparentemente, os seus próprios mistérios. No interior de objetos sem uma forma predefinida encontra-se a informação que facilita, simultaneamente, o conhecimento acerca do personagem e a seleção do caminho. Sensorialmente estimulante, a informação desafia o entendimento e desperta a sensibilidade para que o ponto de acesso ao próximo labirinto seja alcançado pela intuição. Uma preparação, nitidamente, para os mistérios que serão apresentados no labirinto seguinte. Questionar e procurar o esclarecimento sobre os mistérios que são apresentados em cada labirinto pode ser fundamental para a melhor compreensão dos capítulos seguintes.
Percorrendo cada capítulo como observador, com curiosidade e com um foco maior na compreensão e aprendizagem do que no destino, é provável que as soluções mais adequadas despontem naturalmente, sem grande esforço, muitas vezes de forma inusitada e com criatividade. Se a razão desses mistérios for algo que existe dentro da personagem, então ela tem tudo o que precisa para o resolver. Não é maravilhoso?
Se a natureza das coisas é a sua mudança permanente, então não é expectável que a aplicação da mesma solução a um problema recorrente conduza a resultados diferentes.
«Nos problemas que permanecem persistentemente insolúveis devemos sempre suspeitar da pergunta ter sido feita da maneira errada.»
Allan Watts, The Book on the Taboo Against Knowing Who You Are, 1966.

Assim como tu…
Estabeleci um compromisso com o meu coração, mantê-lo recetivo e seduzido pela pluralidade do amor a partir da palavra amar, mesmo se não gostar.
Existirá um placebo melhor para o corpo e para a alma?




A admiração pelo mundo das nuvens é, simultaneamente, uma das causas e consequências do compromisso que estabeleci com o meu coração. É um mundo inclusivo que aceita todas nuvens qualquer que seja a sua forma ou cor.
E, uma nuvem nunca morre (Thich Nhat Hanh).
Tal e qual como o Amor!

Contemplar as nuvens de uma perspetiva integrativa, a partir da ciência e da arte, pode favorecer escolhas e decisões que privilegiem o corpo e a alma já que elas relembram constantemente (basta olhar para o céu) a transitoriedade e a experiência da unidade na dualidade.
Seja esta uma maneira de ser, um mindset ou um caminho, ou tudo isso, o mundo das nuvens pode ser um lugar inspirador para a reinvenção da própria vida.
Amor

“Experimentar o amor como luz que revela a beleza imaterial que se esconde em todas as coisas” (Delia Steinberg Guzmán, filósofa e escritora, 1943-2023).
O símbolo do amor é o coração. Este orgão central do aparelho circulatório é frequentemente associado aos afetos.
Nas últimas décadas, a inter-relação entre a fisiologia do coração e as emoções tem sido investigada. Neste âmbito, salienta-se a importância da cooperação entre o coração e o cérebro no processo de autoregulação do organismo, influenciando o seu equilíbrio, saúde e bem-estar.
Para além de representar um símbolo emocional, muitas tradições orientais consideram-no o centro espiritual do ser humano, assim como a força que nos interpela e impulsiona através da ligação a uma dimensão cósmica ou universal.
Seja de que forma for, essa reconexão recentra a noção de interligação e interdependência na construção de uma identidade multidimensional que integra singularmente elementos e características universais.
Essa consciência apela à autorrealização e ao desenvolvimento de relações ecológicas a partir da tolerância, transparência, delicadeza, cooperatividade, empatia, respeito, compromisso, responsabilidade e gratidão, conferindo maior sentido de propósito e promovendo uma harmonia mais plena e sustentável . Numa palavra só, autenticidade.
Porque não escutar o coração? Talvez ele seja o melhor conselheiro…
Pássaro de água, Julho 2023.
Plasticidade e Amor

A neuroplasticidade é uma característica que permite ao cérebro alterar e adaptar a sua estrutura e função de acordo com a experiência. Ela é indissociável das funções cerebrais, tais como raciocínio, memória, criatividade e emoções, podendo ser influenciada pelas experiências, comportamentos e pensamentos. Desta forma, ela está implicada na saúde e na doença.
Mas, nem sempre se pensou assim. Contudo, os avanços científicos mostraram que a capacidade de adaptação do organimo humano aos estímulos internos e externos, como um todo, é o reflexo, pelo menos em parte, da plasticidade inerente aos diferentes níveis de organização – as suas partes (células, tecidos, orgãos, e sistemas orgãos) – sob a supervisão de mecanismos homeostáticos que coordenam, de forma integrada, os processos que neles ocorrem. O objetivo é a articulação funcional das partes em termos de matéria e energia alcançando, dessa forma, estados de equilíbrio. Tratando-se de um equilíbrio dinâmico, ele é alcançada a partir de desiquilíbrios fisiologicamente compensáveis. Esta noção recapitula, assim, o princípio de impermanência da filosofia pré-socrática e o conceito de unidade (harmonia) extensíveis a todas as coisas que existem na natureza.
Esta compreensão tem utilidade prática. Olhar as coisas, incluindo nós próprios, desta perspetiva de transformação contínua, pode melhorar o discernimento, auxiliando o esclarecimento e as decisões.
O processo natural de evelhecimento humano também é contínuo, traduz-se em alterações biológicas e elas são indissociáveis do processo de interpretação da realidade, interna e externa.
Tudo é temporário e nem sempre é fácil assimilar este conceito. Mas, a natureza impulsiona naturalmente no sentido da autoidentificação, uma reconexão com a essência elementar, uma autenticidade que é revelada pelo desprendimento e aceitação. O processo é, evidentemente, individual, mas a força impulsionadora dessa transformação em sintonia com o ritmo da natureza talvez seja uma só… o Amor.
Pássaro de água, Julho 2023.
Tempestades
Tempestades que cruzam o caminho
enlaçam vários casos, aparentemente ao acaso, movimentando areias, levantam poeiras
corpos entorpecidos, sem ânimo
naturalmente, repousam
simplesmente, existem
em silêncio, notavelmente
sentem o vento que impulsiona
vigorosamente, elas ascendem admiravelmente
e a esperança desponta no caminho.
«Sempre que desistimos, deixamos para trás, e esquecemos demasiado, há sempre o perigo de que as coisas que negligenciámos voltem com mais força» (Carl Jung, Memories, Dreams and Reflections, 1961).

Surpreendentemente, o sol encontra sempre uma forma de brilhar!
«No meio da confusão, encontre a simplicidade. A partir da discórdia, encontre a harmonia. No meio da dificuldade reside a oportunidade» (John Archibald Wheeler, físico, 1979).
Pássaro de água, Julho 2023.
«Quem olha para fora, sonha, quem olha para dentro, desperta» (Carl Gustav Jung, Letters, vol 1:1906-1950).
Olhar o mundo interior permite descobrir novas perspetivas sobre nós próprios e sobre o mundo que nos rodeia, abrir portas para novos lugares, com outras oportunidades e opções. Quando encontramos a oportunidade desejada sem a procurar, é bem provável que já a tenhamos procurado longamente e ela não nos encontrou, simplesmente.
Qualquer que seja o lugar, haverá sempre algo novo para contemplar!
Ah! E os lugares que escolhemos com o livre arbítrio que nos foi concedido? Oh! Isso? É viver, simplesmente.


«Não creio, no sentido filosófico do termo, na liberdade do homem. Todos agem não apenas sob um constrangimento exterior mas também de acordo com uma necessidade interior» (citação atribuída a Albert Einstein, físico, 1879-1955).
Com um livre arbítrio relativo, escolhemos quase tudo, decidimos quase nada e esse é o ponto de partida para acontecer quase tudo!

Agradeço… «a serenidade para aceitar aquilo que não posso mudar, a coragem para mudar o que me for possível e a sabedoria para saber discernir entre as duas» (Reinhold Niebuhr, teólogo, 1892-1971).
Pássaro de água, Julho 2023.
Compreender a natureza

A observação da natureza pode ajudar a compreender tudo melhor, incluindo a nossa própria natureza.
Para que a observação resulte em aprendizagem, é essencial explorar os diferentes ângulos da questão, refletindo sobre eles, e, assim, conferir sentido à experiência.
Citando Aldous Leonard Huxley (1894-1963), romancista e ensaísta inglês, «experiência não é o que acontece com um homem, é o que um homem faz com aquilo que lhe acontece» (Texts and pretexts: an anthology with commentaries, 1933).
Carl Gustav Jung (1875-1961), médico e psicoterapeuta suiço, é considerado o fundador da psicologia analítica que considera o indivíduo como um todo, analisando questões relacionadas com o consciente e despertando conteúdos do inconsciente com o objetivo de estabelecer um equilíbrio entre mundo interior e mundo exterior.
A psicologia junguiana distingue quatro funções psicológicas para tipificar a personalidade e elas são apresentadas como dois pares de opostos: pensamento (objetivo) e sentimento (subjetivo), consideradas funções racionais; sensação e intuição (The SAP, Society of Analytical Psychology).
A sensação é facultada pelos orgãos dos sentidos e ela estabelece que uma coisa existe no tempo presente. O pensamento estabelece o que ela significa; através de uma associação lógica de ideias e conceitos é produzida, com objetividade, uma conclusão. O sentimento informa o que esta coisa é para nós, resultando na sua aceitação ou rejeição consoante essa coisa é, respetivamente, agradável ou desagradável. A intuição é uma perceção extrassensorial, comummente conhecida por sexto sentido, que faculta uma perceção inconsciente das coisas permitindo visionar novas possibilidades.
«O que quer que olhemos, e seja o que for que olhemos, só vemos através dos nossos próprios olhos» (Carl Jung, Modern Man in Search of a Soul, 1933).
A natureza, sabiamente engenhosa, pode surpreender a lógica com imprevisível imaginação. Experimentadora e observadora, ela pode reclamar emoção à lógica e uma lógica à emoção, opostos naturais que com arte se combinam para apreender a verosimilhança das inúmeras possibilidades, presumidas verdadeiras podem ser apenas verdade.
No âmbito das escolhas, questionamo-nos frequentemente sobre aquilo que é certo para nós e se aquilo que é certo para um, também será certo para outro.
A integração da informação facultada por estas funções pode ser fundamental para esse esclarecimento. Elas estão vinculadas à existência de um corpo. Praticar o autocuidado de todas as suas partes (física, intelectual, psicológica e espiritual), reconhecendo e aceitando as suas vulnerabilidades, pode ajudar a melhorar o desempenho de cada uma delas, mantendo ou restabelecendo o equilíbrio interno do organismo, um estado de serenidade que desperta naturalmente para a autorealização, facilitando-a, sustentando-a e incentivando-a.
Pássaro de água, Julho, 2023.

As coisas não são boas nem más, são apenas elas próprias. O bom ou o mau que vemos nelas depende da forma como olhamos para elas, um conceito explorado, por exemplo, por Baruch de Spinoza (filósofo de origem judaico-portuguesa, 1632-1677) na sua obra “On the improvement of the understanding”, 1677.
E, haverá melhor razão para continuar a sonhar e perseguir os sonhos?
Sente o bater do coração? Então, já se encontra a caminhar no sentido da sua concretização, experienciando o conflito de opostos que é uma presença natural em vários lugares ao longo do caminho. Para a sua resolução, talvez só exista uma solução, aceitar o desafio, a dissolução, acreditar inteiramente, confiar longamente e atuar de um lugar a partir do coração.
Pássaro de água, Julho 2023.
“Nada é permanente, exceto a mudança.” Heraclito de Éfeso

Sócrates, filósofo do período clássico da Grécia Antiga, ficou conhecido por ter iniciado uma corrente antropológica. Os filósofos anteriores, naturalistas, dedicavam-se à contemplação da natureza, procurando conhecer o fundamento das coisas segundo uma perspetiva cosmológica.
Heraclito de Éfeso (540-470 a.C), filósofo pré-socrático, ficou célebre por apresentar a existência como fluxo, considerando que o princípio de todas as coisas é a sua mudança contínua.
Tudo é transitório, tudo flui, nada permanece — «Não se pode descer duas vezes o mesmo rio, e não se pode tocar duas vezes uma substância mortal no mesmo estado, pois por causa da impetuosidade e da velocidade da mudança, ela se dispersa e se reúne, vem e vai. (…) Nós descemos e não descemos pelo mesmo rio, nós próprios somos e não somos.»
Esta impermanência natural convida-nos a abraçá-la, aceitando-a e fluindo com ela, com graciosidade e criatividade. Haverá outra forma de conviver tranquilamente com a mudança e a imprevisibilidade natural de todas as coisas?
A todos eles, pela sua contribuição para o nascimento da filosofia («amor pela sabedoria»), obrigada, obrigada, obrigada.
A ideia da existência como fluxo está relacionada com a unidade dos opostos. Segundo Éfeso, aquilo que é apresentado como duas realidades opostas (tais como quente e frio, dia e noite, descida e subida, seco e húmido, rígido e flexível, saúde e doença, justiça e injustiça, eu e não eu) é, na verdade, a unidade; a valorização de um implica sempre o outro, é impossível ter um sem ter o outro. A existência dinâmica das coisas decorreria, assim, da transição de um contrário a outro implicando o conflito de opostos.
Qualquer que seja a essência, os elementos do mesmo par, complementares, estão separados por uma escala que pode variar, por exemplo, no caso da temperatura, algo muito ou pouco quente pode passar, respetivamente, a pouco ou muito frio, e vice-versa. No entanto, a associação desta polaridade com a impermanência natural das coisas pode conduzir à perceção de uma certa desordem, mascarando o conceito de unidade.
Aquilo que sentimos depende da forma como vemos as coisas, e da forma como as virmos assim elas existirão. E, às vezes, vemos aquilo que elas não são em si mesmas.
«Se mudares a forma como olhas para as coisas, as coisas que olhas mudam» ( Max Planck, físico, 1858-1947).
Pássaro de água, Julho 2023.

Gratidão
Há momentos em que sinto que sou uma borboleta!
Após uma metamorfose, a borboleta apercebe-se de que a floresta permanece exatamente a mesma mas irradia o brilho que ela tinha projetado nela.
Pássaro de água, Julho 2023.

Espiral

Na interseção da ciência e arte encontra-se o mundo fascinante dos padrões como é o caso da hélice e da espiral. A hélice é uma forma tridimensional que combina o movimento de rotação em torno de um ponto com um movimento de translação deste ponto, enquanto que a espiral é uma linha curva plana que se desenrola de modo regular em torno de um ponto fixo, afastando-se ou aproximando-se progressivamente. Em comum aparece o círculo! A espiral é um dos símbolos ancestrais mais importantes, como é o caso da espiral de Fibonacci que se encontra na natureza, no corpo humano, no sistema solar e na geometria sagrada.
A propósito de duas linhas entrelaçadas, por acaso em espiral, recordo o poema de 2021:
A sensação de uma relação entre calma e clamor, um dueto naturalmente, os dois entrelaçados claramente, destinados a rodopiar por uma escada helicoidal. As voltas estão separadas subtilmente, por patamares com uma vista excecional para a frente ou para trás. Degrau a degrau, volta a volta a inusitada coerência surpreende, os inúmeros elementos são integrados magnificamente, no tempo e no espaço. Desenhados com uma notável perfeição sugerem, genuinamente, autoreflexão para que a relação evolua sempre como duas linhas enlaçadas por acaso, em espiral.
Pássaro de Água, Junho 2023.
Alma d’Água

Oh, meu amor escuta as inúmeras vozes da água que corre para o mar, observa os seus segredos gravados nos contornos cristalinos do traçado. Sempre a mesma água, ela corre sempre continuamente, sempre renovada momento a momento, sempre. Escuta os inúmeros murmúrios admiravelmente compassados constantemente em sintonia com o fluxo dos eventos a cada momento. Ah! Como eles ressoam profundamente no corpo, como se ele fosse apenas água! São vozes que falam ao coração sempre fluidamente, com perfeição. Quanto lhe agradeci, afetuosamente ela murmurou tão suave e docemente como se estivesse a sorrir intimamente num tom azul celeste magnífico serenamente refletido no manto espelhado. Hum, meu amor, porque não ser água corrente? Sendo a mesma, ela é sempre diferente, seguramente! Poema inspirado no romance "Siddhartha", Hermann Hess (1879-1962). Obrigada pelas páginas de rara beleza!
Para a natureza do amor proponho a perspetiva dos pensadores da era pré-socrática que procuravam compreender o que é essencial e característico, como é o caso de Heraclito de Éfeso: todo o amor deriva do ato de ver.
A frase do filósofo e teólogo italiano Giordano Bruno subentende que a realidade integra a alternância entre contrários, uma noção explorada pelos pensadores da era pré-socrática (~até 400 a.C) que procuravam compreender a natureza das coisas, nomeadamente o filósofo grego Heraclito de Éfeso (540-470 a.C.).
Heraclito de Éfeso ficou célebre por apresentar a existência como fluxo – “tudo flui, nada permanece” – considerando que o princípio de todas as coisas é a sua mudança contínua. Essa permanente e constante mudança que caracteriza a existência estaria, ela toda, fluindo assim como fluem as águas de um rio: “não se pode entrar duas vezes no mesmo rio”.
Aguma vez ouviu a expressão “para a frente é que é o caminho”? Ora, exatamente, é tal e qual como acontece com a água corrente do rio! Estes provérbios populares são transmitidos de geração em geração, quem sabe se há milénios, e não são sempre cheios de sabedoria?
Contudo, a dinâmica de um processo está relacionada com os elementos que o integram; no caso da água do rio, o fluxo depende, nomeadamente, do caudal de água.
Inter-relacionada com a ideia da existência como fluxo, Heraclito de Éfeso também apresentou a unidade dos opostos. Segundo ele, aquilo que é apresentado como duas realidades opostas (por exemplo quente/frio, descida/subida, seco/húmido; eu/não eu) é, na verdade, a unidade. Por isso, tudo o que existe, grande (o cosmos, por exemplo) ou pequeno (tais como moléculas e átomos), embora aparentemente plural, compõe uma unidade. Assim, a existência dinâmica das coisas decorreria da transição de um contrário a outro implicando o conflito de opostos que são complementares entre si. Ainda na perspetiva de Éfeso, o conhecimento do real ocorre pela vertente sensorial e intelectual, sendo essencialmente testemunhado pelo primeiro e filtrado pelo segundo. Contudo, ele considera importante a experiência dos sentidos porque apesar da perceção sensorial imediata resultar, frequentemente, em conhecimento apenas daquilo que existe aparentemente ou superficialmente, ela poderá fornecer evidências essenciais para a construção da perceção daquilo que é considerado inaparente, latente ou até mesmo oculto.
Nesta linha de pensamento, o amor também será um processo em transformação permanente em resultado da integração contínua dos opostos (inteligível/sensível).
O significado, a natureza e o tipo de amor são questões complexas sobre as quais se reflete há séculos.
Na década de 90 do século passado, Robert Sternberg, psicologista americano, propôs a teoria triangular do amor que sugere a existência de três componentes: intimidade, paixão e decisão/compromisso. A intimidade engloba os sentimentos de proximidade, ligação e bondade; a paixão compreende os impulsos que levam ao romance, atração física e consumação sexual; e a decisão/compromisso integra, a curto prazo, a decisão de que um ama o outro e, a longo prazo, o compromisso de manter esse amor. Segundo esta teoria, a quantidade de amor depende da força de interação entre os três componentes e o tipo de amor da inter-relação que é estabelecida entre eles; as ações desencadeadas originam diferentes tipos de experiências de amor (Sternberg RJ, A triangular theory of love. Psychol. Rev. 93(2):119–135, 1986). Representando esses três elementos como vértices de um triângulo, há muitas formas possíveis: o equilátero, com os três lados iguais e os três ângulos internos congruentes (equiangulares), aqueles em que um dos lados é maior do que os outros, ou dois deles maiores do que o terceiro. Além disso, uma vez que os relacionamentos pressupõem o envolvimento de, pelo menos, duas pessoas, várias combinações são possíveis. E não estarão os três elementos presentes até mesmo no relacionamento dos humanos com outros animais ou plantas? Evidentemente que, nestes casos, a forma de comunicação não será a mesma.
O facto da teoria associar o amor a três elementos é curioso porque o número três representa a unidade divina, como a Santíssima Trindade (Pai, Filho e Espírito Santo) para os cristãos, assim como outras tríades (mãe, pai e filho; nascimento, vida e morte; criação, conservação e destruição; passado, presente e futuro). Na simbologia das formas, o número três é associado ao triângulo e o triângulo equilátero é usado frequentemente como símbolo do equilíbrio, harmonia e divindade. Neste contexto, surge também a referência a povos e culturas da Antiguidade que associavam a orientação do triângulo ao elemento/orgão sexual masculino e ao fogo, se voltado para cima, ou ao elemento feminino e à água, se voltado para baixo.
Uma revisão recente sobre este assunto (Tobore TO, Towards a Comprehensive Theory of Love: The Quadruple Theory. Front. Psychol. 11:862, 2020) alerta para a importância da integração de outros elementos uma vez que, até à data, não foi possível obter uma correlação satisfatória entre os dados psicométricos facultados pelas várias escalas desenvolvidas para o efeito e os diferentes tipos de amor. O autor propõe quatro fatores fundamentais – atração, ligação ou ressonância (indispensável para o compromisso, cuidado e intimidade), confiança e respeito – explorando a sua inter-relação em algumas formas de amor.
No âmbito dos avanços registados sobre esta matéria do amor, há que salientar os conhecimentos novos que têm sido revelados pela neuropsicologia e neurobiologia. No primeiro caso, com a análise de imagens obtidas a partir de ressonância magnética funcional (fMRI) que poderão ajudar a identificar melhor as regiões cerebrais envolvidas e a forma como elas se inter-relacionam nas diferentes formas de amor; quanto à neurobiologia, ela tem demonstrado a complexidade molecular do amor pelo envolvimento de hormonas e neurotransmissores, tais como oxitocina, vasopressina, testosterona, cortisol, dopamina, serotonia e endorfinas (Zeki S, The neurobiology of love. FEBS Lett. 581(14):2575-9, 2007). Ainda assim, o assunto está longe de estar esclarecido até porque haverá outros fatores a considerar, nomeadamente culturais (Karandashev V, A Cultural Perspective on Romantic Love. Online Readings in Psychology and Culture, 5(4), 2015).
Quando se trata de matérias complexas como é o caso do amor, não parece que olhamos para elas tal e qual como acontece num caleidoscópio? Este aparelho foi desenvolvido pelo físico escocês Dawid Brewster (1781-1868) em 1817. O caleidoscópio é formado por um pequeno tubo cilíndrico que é preenchido com pequenos pedaços coloridos de vidro partido, ou de outro material, e três espelhos. Através do diálogo entre o movimento da mão e a visão, uma combinação variável de arranjos simétricos são visualizados em função da inclinação dos espelhos e as imagens produzidas encantadoras para crianças e adultos. Este objeto lúdico que interliga a física com a arte também pode ser uma metáfora para qualquer coisa complicada, ou que tenha muitas partes, e que seja particularmente colorida. A natureza dinâmica, a simetria e a diversidade dos seus padrões ilustram, respetivamente, a imprevisibilidade e transitoriedade, a beleza e harmonia, e a complexidade do pensar e sentir implícita na afirmação de Giordano Bruno. O caleidoscópio pode ser uma metáfora do amor que reflete tudo isto, assim como a possibilidade de ver beleza mesmo quando no interior parecem existir apenas pedaços.
Se a impermanência das coisas é inevitável, resultando numa metamorfose ao nível do pensar, sentir e concretizar, já para uma determinada coisa o número de combinações diferentes entre opostos e complementares (pressupondo um gradiente contínuo entre duas grandezas) deverá igualar, no mínimo, o número de perceções diferentes sobre o que é essa coisa (lógica) e o que ela é para cada um de nós (sentimento). Se o desenvolvimento da perceção depende da experiência, mas não só, então a forma de descobrir o significado que qualquer coisa tem para nós deverá passar pela experiência daquilo que queremos saber. No final, viver talvez seja “apenas” isso mesmo, a experiência que leva à descoberta daquilo que é verdadeiramente essencial e característico, qualquer que seja a coisa, experimentando a unidade a partir de combinações diferentes entre características opostas e complementares. Se, no âmbito das formas, a unidade é representada pelo círculo, então a expressão “circular é viver” tem um sentido literal. Que a vida proporcione as experiências que todos desejaríamos ter e que através delas circulemos o mais fluidamente possível, recorrendo ao pensamento e à sensibilidade para compreender e aceitar melhor a natural impermanência e pluralidade de todas as coisas tangíveis. Quanto à unidade relativa ao cosmos ou ao conjunto das realidades do mundo natural, ela não será inteiramente tangível (e ainda bem!); os sentidos são limitados e fazemos parte da natureza e dos mistérios que procuramos compreender. Assim, de repente, ocorreu-me a expressão “olhar aquilo que conheço com curiosidade e o que desconheço com humildade”. Considere, por exemplo, a experiência como filho, amigo, aluno, progenitor, companheiro ou profissional ao longo da vida, e imagine que cada uma delas é representada por um círculo (neste exemplo, seis no total); se, por um lado, cada um deles é preenchido com vários círculos que representariam as diferentes fases dessa experiência ao longo da vida, por outro, os seis círculos são representados dentro de um círculo maior que englobaria todos os outros. Não é possível conhecer a totalidade de inter-relações e interdependências que é estabelecida entres todos esses círculos a cada momento, tal como acontece numa rede de sistemas, pois não?
Seja qual for a experiência, um certo nível de inquietude, ou desassossego, faz parte do processo. Atuando como impulsionadora da curiosidade, criatividade, perfeição, concretização e prazer, ela tanto pode encorajar a participação na experiência e permitir que ela flua como o rio, como também desencadear ansiedade, desencorajar ou bloquear. Uma vez consciente dessa inter-relação, explorar os benefícios decorrentes da prática de atividades que promovam a saúde e o bem-estar, e elas não são assim tão poucas, é uma opção. Mas nem sempre a tarefa é simples, quer ao nível da escolha quer da persistência. Quanto ao segundo aspeto, manter a motivação é importante e ela resulta, frequentemente, da associação entre a sensação de prazer e a concretização do objetivo que são reciprocamente estimuladas. No próximo artigo irei abordar uma dessas atividades.
Até lá, com amor.
Pássaro de Água, Fevereiro 2023.
Para possibilitar uma contextualização preliminar em caso de interesse, a bibliografia selecionada é de acesso livre.

O movimento circular enlaça, compassadamente entrelaça, progressivamente esculpindo um corpo detalhadamente que abraça naturalmente.
Não é admirável a mestria deste construtor que produz uma material forte, flexível e biodegradável com potencialidades regenerativas e curativas? De facto, a natureza é incrivelmente engenhosa. Se a vida integra essa natureza, então essa mestria é uma característica intrínseca de todos os organismos vivos, dos mais simples aos mais complexos. Essa mestria existe em todos nós.
Pássaro de água, Janeiro 2023.

No hemifério norte, as estrelas parecem mais brilhantes no inverno do que em qualquer outra altura do ano.
A Terra está voltada para longe do centro da via láctea o que torna o céu de inverno menos brilhante.
Em noites de céu limpo vale mesmo a pena olhar longamente para o céu…
No hemisfério norte, a observação da constelação de orion é especialmente visível em dezembro e janeiro.
O céu noturno está magnificamente estrelado e é possível observar três estrelas alinhadas e igualmente espaçadas, o cinturão de orion popularmente conhecido por Três Marias, que facilitam a identificação da constelação.
As três estrelas apontam para sirius, uma estrela de outra constelação e a mais brilhante no céu noturno.
Pássaro de água, Janeiro 2023.